De tanto colecionar dúvidas sobre posturas, decisões e comportamentos humanos, resolvi adquirir um baú... e lá, guardo alguns desses indissolúveis questionamentos que vez por outra, me tomam algumas horas queimando neurônios, tentando alcançar o que parece inalcançável, que é: entender os critérios usados por nós, para diferenciar isso, daquilo...
E uma vez estipuladas tais diferenças, classificar a importância de ambas.
Então, dia desses, ao remexer o tal móvel adquirido, visualizei simultaneamente uma matéria publicada num desses conceituados veículos da mídia, que falava em proibição judicial envolvendo ARTE e ATRIZ ADOLESCENTE de 16 anos. (?)
Eis que, nesse momento, emergiram desse meu baú, algumas das muitas dúvidas que volta e meia, me confundem a cabeça e o pouco entendimento que tenho sobre as complexidades legais e jurídicas.
Instantaneamente, me perguntei inúmeras coisas: onde será que começa o bom senso coletivo? Ou, onde terminaria a hipocrisia disfarçada e cínica, de alguns que, detém nas mãos o poder de: simplesmente assinar autorizações (ou assassinar liberdade de expressão), mandar cessar essa ou, aquela manifestação (ou matar o verdadeiro sentido da arte em si) e expedir leis (ou expelir do alto de suas competências, verdades absolutas)?
Estarreceu-me, ler sobre a determinação outorgada pela justiça paulista, que vetava uma jovem atriz de 16 anos (já emancipada antes da tal 'proibição'), de mostrar o seio e 'simular' ato sexual, em duas cenas de um espetáculo teatral, onde ela, é parte do elenco.
A cena (contextual) onde ela mostra o seio, é definida pela própria atriz, como: POÉTICA e não: PORNOGRÁFICA.
Tal cena, que fecharia o primeiro ato da peça, teve que ser adaptada posteriormente, para acatar a resolução do Senhor Juíz Fulano de Tal...
Ora, pois! Com todo o respeito, pareceu-me mau administrado ou, até mesmo desperdiçado, o precioso tempo (ou a sobra do mesmo), do qual disponibilizam os nossos magistrados, para discutir/decidir questões certamente mais importantes e cruciais, ao bem estar de nossas crianças e adolescentes.
Porque será que, UM SEIO (adolescente) à mostra numa manifestação de arte, deveria chocar mais e merecer mais rigor e atenção do que, DOIS SEIOS (igualmente adolescentes), à mostra e à mercê, de uma horda de pessoas adultas, covardemente dispostas a pagar alguns poucos vinténs, ou quase nada, para saciar suas lascívias doentias e até inescrupulosas, por essas empoeiradas estradas, avenidas movimentadas e confins de nossas 'Terras Brasilis'?!
Será realmente mais importante e urgente, priorizar o 'veto' em se mostrar 'simulações' de atos sexuais encenados por jovens de menor idade em espetáculos teatrais, do que, proibir literalmente com rigor e responsabilidade, não as 'simulações', mas os atos sexuais propriamente ditos e praticados por inúmeras tantas crianças e adolescentes, nas ruas, nas 'casas de famílias', nas instituições ditas 'religiosas', ou em qualquer outro cenário, que não, o palco de um grande teatro?!
E pasmem, assim como eu! Como se não bastasse o exagero da resolução em si, ainda foi determinado que, a jovem atriz fosse acompanhada durante as apresentações por duas psicólogas, que emitirão laudos para saber se, por atuar na peça, a garota sofreu algum dano psicológico...(?)
Eu, sinceramente, do alto de minha ignorância legal e jurídica, não consigo compreender que tipo de dano psicológico, poderia sofrer uma jovem, ao representar com prazer, consciência e dignidade, uma personagem fictícia numa peça teatral.
Se tal encenação poderia causar algum 'dano psicológico', o que causaria então, as vias de fato a que se submetem tantas outras meninas e meninos, quando alugam seus seios, inocências e genitálias como meios de ganhar o pão, saciar a fome e anular de vez, qualquer dignidade e auto estima?
Se tal encenação poderia causar algum 'dano psicológico', o que causaria então, as vias de fato a que se submetem tantas outras meninas e meninos, quando alugam seus seios, inocências e genitálias como meios de ganhar o pão, saciar a fome e anular de vez, qualquer dignidade e auto estima?
Às vezes, gostaria de poder ter acesso a tal qualificação acadêmica, para quem sabe, anular de vez minha incapacidade simplória de entender os critérios usados pelos grandes detentores do poder e possuidores de conhecimentos técnicos, complexos e legais.
Quem sabe assim, eu diminuísse consideravelmente a bagagem acumulada, em meu confuso BAÚ?!
Quem sabe assim, eu diminuísse consideravelmente a bagagem acumulada, em meu confuso BAÚ?!
Pelo visto, acho que terei que adquirir em breve, um outro baú.
Dessa vez, um pouco maior... pra caberem tantas novas indagações incompreendidas e algumas interrogações infinitas...
Perdoem-me, se minha ignorância tanta, desconserta e incomoda os mais intelectualizados e qualificados que, por mera curiosidade, se dispuseram a ler tamanha nescidade...